“Gosto muito da quinta e é lá que vivo”

Estudante a tempo integral, jogador de “airsoft” nas horas vagas e cuidador dos animais da quinta dos pais aos fins de semana, João Vítor Cabral Melo não é o típico jovem que vive na cidade.

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João Vítor trocou a promessa de entrada numa escola de Oficiais- para seguir o mesmo caminho do pai- pela Universidade dos Açores.

 

João Vítor Cabral Melo tem 21 anos. É o mais velho de três filhos. Desde pequeno que mora na freguesia dos Fenais da Ajuda, na região mais interior da ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores. Uma região que é particularmente diferente da cidade de Ponta Delgada, por ser mais verde e (ainda) mais sossegada.

No ano de 2013, João teve de escolher para que universidade ir. O pai, que trabalha na GNR, incentivou-o a ir para uma escola de Oficiais localizada no Continente. Contudo, João não aceitou a proposta, tendo decidido ingressar no curso de Comunicação Social e Cultura na Universidade dos Açores, no campus de Ponta Delgada. João confessa que na secundária era melhor aluno, do que agora na universidade: “Fiquei mais solto, sem a supervisão dos meus pais. Pela primeira vez estava a morar sozinho num sítio que fica longe de tudo o que conhecia, pelo que foi uma adaptação mais demorada, refletindo-se nas notas”. Logo de início, João percebeu que a cidade não era igual à sua terra. Era mais movimentada e menos fechada mentalmente: “as pessoas aqui são mais abertas”.

João Melo afirma, de sorriso nos lábios, que prefere “a cidade ao campo”.  Contudo, não esconde a sua paixão pelo campo, e sobretudo pela quinta dos pais: “Eu cuido dos animais nos meus tempos livres. Gosto muito da quinta e é lá que vivo”.  Para além das tarefas da quinta, João gosta de fazer trilhos pedestres e caminhadas pela região Norte da ilha, aproveitando de vez em quando para dar um banho no mar “seja no Verão ou Inverno. Eu gosto muito de ir ao mar”.

Com a ajuda de um amigo, aprendeu a jogar airsoft (desporto semelhante ao paintball, mas que está mais associado ao panorama militar, usando-se balas de borracha ao invés de balas de tinta). Contudo afirma, que não joga tanto como gostaria, pois, o equipamento necessário é dispendioso: “Não é tanto o aluguer do espaço onde jogamos, é mais a arma e o equipamento. Se não tens muito dinheiro, não consegues praticar”.

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O lado Norte da ilha de São Miguel, fascina o jovem João Vítor pela sua beleza natural. Sendo assim, João aproveita para fazer um trilho pedestre sempre que pode.

 

Apesar de não ter dificuldades financeiras, João trabalha na empresa de som da família, a “Melo & Melo”, para ganhar experiência no mercado de trabalho e para ajudar os familiares a gerirem a pequena empresa: “Não ganho dinheiro, mas ajudo a minha família”.

A viver na cidade há três anos, João acha que não teve nenhum momento extraordinário na sua vida. Contudo, concorda que a entrada na Universidade foi um marco importante na sua jornada. Da experiência universitária, o que mais marcou este jovem foi a praxe académica: “senti que cresci como pessoa e aprendi a ter uma noção diferente da vida. Comecei a analisar e a perceber como as pessoas reagem a situações em que são levadas ao limite ou em que estão sob pressão”.

Talvez esta afirmação seja um presságio do que está por vir na vida de João Melo, pois o jovem micaelense afirma que após terminar a licenciatura gostaria de fazer um estágio em imprensa e depois seguir para a escola de oficiais no Continente. Se esta última decisão se concretizar, então João irá realizar um sonho de miúdo: ir ao Continente. Nascido e criado nos Fenais da Ajuda, João nunca saiu dos Açores. Do interior para a cidade, a jornada de João Vítor Melo ainda agora começou.

 

 

TEXTO E IMAGENS POR: Sónia Freitas

 

A menina Castro

É natural da ilha Terceira e nasceu no dia 3 de Dezembro de 1993, Isabel Melo Castro tem 21 anos e estuda Comunicação Social e Cultura na ilha de S.Miguel, em Ponta Delgada.

Numa conversa informal, conta que é a única menina da família Castro e segreda-nos: “fui crescendo, sempre mimada, no bom sentido, e tornei-me numa menina muito querida por todos, pois era uma menina muito alegre”. Conta também que o seu nome é igual ao da sua avó materna e que os seus avós paternos tinham muito orgulho em ter uma neta mas que não a chegaram a conhecer, pois morreram no mesmo ano em que ela nasceu.

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            Isabel na Universidade dos Açores

Isabel, sempre com um sorriso na cara, conta-nos todo o seu progresso escolar, que, até ao 6º ano, concluiu com muito sucesso. No decorrer do ensino secundário, a menina Castro descobriu que cometeu um erro ao entrar no curso de ciências e tecnologias: “não gostei desta área”, explica. Decidiu mudar o seu percurso e tirar um de informática numa escola profissional, concluindo-o com o título de “ 3ª melhor média da turma”.

No entanto, este curso não era o suficiente para que Isabel conseguisse ingressar no ensino superior, fazendo com que a jovem fizesse o estágio T e conseguisse pagar explicações para a ajudar nos estudos da disciplina de português. Isto permitiu que Isabel voltasse à secundária para concluir a disciplina que lhe faltava nos exames nacionais. No entanto devido a algumas crises nervosas apenas conseguiu terminá-la nos exames de segunda fase.

No fim de toda esta atribulação, chegou a hora de Isabel escolher o curso em que se queria licenciar. Por falta de vagas, não conseguiu entrar na sua primeira opção, que era serviço social, escolhendo, de seguida, o curso onde, hoje, já se encontra no terceiro ano de licenciatura, Comunicação Social e Cultura: “a vida de um locutor de rádio sempre me fascinou”, justifica. No entanto, a universidade da ilha Terceira apenas se dedica à área das ciências, o que fez com que Isabel não pudesse continuar os seus estudos na sua terra natal. Teve que se candidatar para a Universidade dos Açores mas no pólo da ilha de S.Miguel.

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A menina Castro afirma que o “Livro de estilo do PÚBLICO” é um dos que a mais ajudou a fazer jornalismo.

E, deixando a família e todos os seus amigos, partiu para uma ilha vizinha que desconhecia. Conta-nos que a sua adaptação não foi muito complicada, explicando: “sempre fui uma rapariga desenrascada e ter entrado nos escuteiros aos 13 anos de idade também me ajudou nesse sentido”. As suas quatro colegas de casa também a fizeram se sentir bem na ilha que começava a conhecer.

Começam as aulas e, infelizmente, devido a alguns problemas, a jovem não concluiu o primeiro ano com muito sucesso, melhorando esta estatística no segundo e no terceiro, pois conheceu o que define como  o seu “porto seguro”, o seu namorado. Sobre ele, Isabel diz: “ajuda-me sempre que preciso de algo em S.Miguel e está sempre pronto a ajudar-me e a ultrapassar as saudades da minha terra natal”.

Isabel Melo Castro, única menina da família, estudante de comunicação social e cultura, alegre e espontânea, deseja continuar nesta ilha que a “acolheu muito bem” e “arranjar emprego na área da radio”.

 

Perfil de Carina Menezes

 

 

Estudantes da UAC têm aulas na RTP Açores

A turma do 3º ano do curso de Comunicação Social e Cultura da Universidade dos Açores teve, durante os meses de março e abril, aulas nos estúdios da RTP Açores no âmbito da disciplina de Oficina de Jornalismo II.

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A estação forneceu aos jovens as melhores condições para a realização das aulas tendo cedido o cenário onde é realizado o Telejornal da RTP Açores .

No decorrer de quatro semanas, os alunos tiveram a oportunidade de conhecer os bastidores da estação televisiva, conhecer técnicas jornalísticas e receber orientação de alguns profissionais da estação. O espaço cedido pela RTP Açores, serviu ainda para os estudantes realizarem vários trabalhos práticos, de forma a terem um ambiente real e uma melhor perspectiva sobre o jornalismo.

Os alunos realizaram dois pivots e duas entrevistas, sendo que uma das entrevistas contou com o auxílio de Herberto Gomes, jornalista e profissional da RTP Açores há cerca de 25 anos, que aceitou ser entrevistado pelos estudantes. Na realização da atividade, o jornalista aproveitou para aconselhar os jovens futuros jornalistas sobre a profissão, atendendo à formação dos jovens e à evolução do jornalismo. Na outra entrevista, a docente pediu aos estudantes que imaginassem um programa da sua autoria sobre as regiões de Portugal, ao qual os alunos atenderam com entusiasmo e criatividade.

Com o auxilio dos técnicos da estação televisiva e da sua docente, os alunos perceberam como enfrentar as câmaras, a postura a ter quando se lê e apresenta uma noticia, como adaptar o seu guião de entrevista mediante as respostas do entrevistado e como improvisar.

As aulas foram realizadas com o intuito de melhorar a formação dos estudantes da academia açoriana, sendo que os alunos puderam avaliar qual área do jornalismo querem seguir. *

FOTOS

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Texto– Sónia Freitas

Fotografias: Cristiana Sousa/Sónia Freitas/Isabel Castro

Nota: O Jornalismo ACores é um laboratório de aprendizagem dos estudantes do 3º ano de Comunicação Social e Cultura da Universidade dos Açores. É provável que nos posts publicados autonomamente pelos estudantes haja incorreções, que serão revistas posteriormente, sob a orientação da docente. Agradecemos a compreensão dos nossos leitores

*Toda a turma e docente aproveitam a ocasião, para agradecer à RTP Açores pela sua disponibilidade e pela cedência do espaço e de profissionais da área.

Jornalista alemão publica livro sobre Daesh

O livor “A minha viagem ao coração do terror: 10 dias no Daesh”  do jornalista alemão, Jürgen Todenhöfer, que narra as estratégias e modo de vida do grupo terrorista mais temido da atualidade, será publicado publicado a 21 de abril, em versão inglesa, pela editora canadiana GreyStone.

O jornalista alemão de 75 anos, obteve permissão dos líderes do grupo terrorista para visitar e  documentar o seu dia-a-dia, no Iraque e na Síria. Jürgen Todenhöfer tornou-se, assim, no primeiro jornalista ocidental a conseguir trabalhar em segurança, num território que é controlado pelo Daesh. O jornalista, acompanhado do seu filho Frederic Todenhofer de 32 anos, que registou todos os momentos da viagem, passou dez dias com os jihadistas na cidade iraquiana de Mosul e a cidade síria  de Raqqa, tendo posteriormente relatado todas as experiências que viveu no livro.

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Abu Qatadah foi o guia do Jornalista na àrea controlada pelo Daesh. Ph/ Frederic Todenhofer

Apesar da obra só ser publicada (internacionalmente) este ano, o jornalista fez a viagem em 2014. Aquando do seu regresso, alertou o Ocidente para o perigo do Daesh, afirmando que as Nações do Ocidente estavam a subestimar o grupo e a força que estes tinham, tanto a nível militar e bélico como a sua capacidade para influenciar milhares de mentes.

Durante os dez dias, viu dezenas de novos combatentes a chegarem aos campos de treino, prontos para lutar pelas morais e ideais do Estado Islâmico (Daesh). Ao jornalista, os combatentes garantiram que quem não se convertesse ao Islão seria morto, independentemente do número de indivíduos que fosse necessário matar:

According to Abu Qatadah [Guia do jornalista na síria e membro do Daesh], those who do not convert will be killed. ‘150 million, 200 million, 500 million. The number doesn’t make any difference to us”. (Extrato do livro)

Apesar de ter consciência do perigo que passou,o autor, jornalista, ex-juíz e politico alemão, reafirma a sua decisão com a afirmação ” Para derrotar  o inimigo, há-que conhecê-lo” ( entrevista para o El Español). 

Os terroristas do Daesh reivindicaram atentados que causaram inúmeras vítimas como os de 13 de Novembro do ano passado, em Paris, ou, ainda mais recentemente, os do dia 22 de Março, em Bruxelas. Para mais informações, leia as notícias abaixo indicadas:

1-  https://jornalismoacores.wordpress.com/2016/03/31/suspeito-de-atentado-a-bruxelas-podera-nao-ser-afinal-o-jornalista-faycal-cheffou/

2-  https://jornalismoacores.wordpress.com/2016/03/26/jornalista-sente-se-culpado-por-nao-auxiliar-brasileiro-ferido-em-bruxelas/

Sónia Freitas

Fontes: SIC Notícias/The Guardian* El Espanol ** BBC/ Telegraph.UK

Fotografias retiradas do The Guardian/ da autoria de Frederic Todenhofer

*Contém extratos do livro em Inglês

** Texto está em espanhol

 

Nota: O Jornalismo ACores é um laboratório de aprendizagem dos estudantes do 3º ano de Comunicação Social e Cultura da Universidade dos Açores. É provável que nos posts publicados autonomamente pelos estudantes haja incorreções, que serão revistas posteriormente, sob a orientação da docente. Agradecemos a compreensão dos nossos leitores.

Rui Soares: “Somos 4 fotojornalistas que andamos todos os dias e o dia inteiro a fotografar.”

Um Estranho por Dia é um trabalho conjunto feito por 4 fotojornalistas portugueses, que por dia dão a conhecer pessoas com uma história de vida única.

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Um Estranho por Dia, são retratos e histórias por: Miguel A. Lopes, Rui Soares, Rui Miguel Pedrosa e João Porfírio.                                                                                                                  Foto DR

Cristiana Sousa (CS): Antes de abordar o projeto “Estranho por dia”, quem são vocês?

Rui Soares (RS): Nós somos os Ruis, o Miguel e o João. Somos 4 fotojornalistas e que andamos todos os dias e o dia inteiro a fotografar.

CS: Por quem ou em que circunstâncias nasceu este projeto?

RS: Tudo começou quando o Miguel fez um post numa rede social a dizer que ia começar a fazer este tipo de projeto. Eu achei uma ideia muito boa e o Rui Pedrosa também. Juntá-mo-nos ao Miguel e por fim convidamos o João.

CS: Consegue explicar ou descrever de que forma encontram as pessoas e as abordam?

RS: Eu acho que falo pelos 4 quando digo que isto acontece de uma forma muito natural. Não há assim uma estratégia ou técnica, são pessoas que nós abordamos na rua de uma foram muito random, no nosso dia a dia.

CS: Qual foi a história mais “estranha” com que já se depararam?

RS: Estranha não, mas constrangedoras já tivemos algumas não consigo apontar uma pois são várias.

CS: Os estranhos que participaram no vosso projeto deixaram de ser estranhos?

RS: Sim.

Claro que sim, já sabemos o seu nome, estivemos à conversa com eles, por isso, para nós já são pessoas que conhecemos.

CS: Já mantiveram algum contacto com algum deles?

RS: Sim, por vezes vamos nos encontrando nas ruas e falamos sempre um pouco, nem que seja para nos dizer que gostou muito de se ver e que algo melhorou na sua vida, etc.   Enfim, conversamos sempre um pouco.

CS: Para terminar, gostava de saber a sua opinião sobre o rumo do fotojornalismo no país e no mundo.

RS: Acho que estamos a passar por um momento único na vida do fotojornalismo e, ao mesmo tempo, triste na era dos jornais de papel que eram o suporte do fotojornalismo como o conhecemos.

O fotojornalismo está cada vez mais vivo por causa da instantaneidade do mundo. O que não quer dizer que a qualidade tenha melhorado, mas pelo facto da quantidade de informação fotográfica ser muito maior, há uma responsabilidade maior, a meu ver, por parte dos fotojornalistas. Eles devem ter um cuidado redobrado na forma como observam e partilham o seu ponto de vista.

Com a rapidez com que as coisas acontecem hoje em dia, uma má informação pode espalhar-se num ápice. E quanto aos jornais, infelizmente, sai mais barato e mais fácil fazer jornais em formato online para se ter acesso nos gadgets do que imprimi-los.

Mas de uma coisa tenho a certeza, é uma época única para quem trabalha na área do jornalismo.

Cristiana Sousa